Imagine que você está no fundo do poço.
Alguém te sacaneou e tirou o que mais importava da sua vida.
Agora imagine que você tem a chance de se vingar desse alguém. Você tem em mãos uma arma, 100 balas e a garantia de que está acima da lei pra fazer o que quiser.
O que você faria?
Essa é a premissa básica da série de Histórias em Quadrinhos policiais intitulada "100 Balas".
Falha minha, admito, ter tido acesso a essas histórias somente agora.
Brian Azzarello expõe as dúvidas, anseios e atitudes de seus personagens de modo extremamente consistente e crível.
A grande sacada é, como você deve ter notado, analisar o que os mais diferentes tipos de pessoas fariam diante dessa situação.
Li apenas as duas primeiras edições lançadas pela competente editora Pixel Media. A primeira, "Atire primeiro, pergunte depois", mostra a história de Dizzy, uma jovem de conduta condenável, talvez vítima da situação em que vive.
Dizzy sai da cadeia nas primeiras páginas. É apenas uma garota, mas já passou diversas vezes por prisões e juizados.
E é nesse momento que ela encontra o misterioso agente Graves.
Ele a entrega provas de quem na verdade havia assassinado seu marido e seu filho. E junto, uma arma e 100 balas impossíveis de serem rastreadas. Além da garantia de que nada aconteceria à garota enquanto ela estivesse portando a maleta com tais itens.
Ao fim da edição, uma pequena história sobre uma senhora arrependida de ter aceitado a proposta do mesmo agente Graves.
Já na segunda, "Tiro pela culatra", a vítima da vez é Lee Dolan.
Lee foi injustamente acusado de pedofilia, por fotos que foram colocadas em seu computador sem que soubesse. Preso, Lee perde tudo. O restaurande do qual era dono e que era considerado o mais promissor da cidade, a família, a dignidade.
Diferentes perfis e diferentes reações à proposta do agente Graves.
Com um roteiro cativante e, ao menos nesse início, a insinuação de que algo maior está por aparecer, fazem dessa HQ leitura obrigatória pra quem gosta de quadrinhos adultos, mais especificamente quadrinhos policiais.
Mas como não só de palavras é feita uma História em Quadrinhos, falemos da arte.
O argentino Eduardo Risso é o artista responsável por dar vida às personagens de Azzarello.
Com desenhos que exploram o alto contraste, sombras marcadas e quadros detalhados, Risso capta exatamente o clima que a história requer. Um clima neo-noir, com uma narrativa densa e inteligente.
As cores seguem essa atmosfera, sendo todas as histórias coloridas basicamente com duas cores, laranja e azul, em tons lavados e que apenas complementam o ótimo trabalho de claro/escuro de Risso.
Ah, e não se pode esquecer das capas.
Dave Johnson apresenta ilustrações excelentes, em composições que, por si só, já valem o preço da revista toda.
Me arrependo de não ter buscado ler essa série antes. Agora vou, sem dúvida, comprar todas as edições que saírem.
E recomendo que vocês façam o mesmo.
Por Thiago Krening